Resumo do artigo: O retorno de Inana: a mulher em busca do feminino reprimido de Adriane Viola Bacarin

Este artigo fala sobre o mito da deusa Inana, uma figura da mitologia suméria, e como ele pode ajudar as mulheres a reconectar-se com o lado feminino que foi reprimido ao longo da história, especialmente em sociedades patriarcais (onde os homens têm mais poder e controle). A ideia é usar o mito como uma ferramenta para entender melhor a si mesmas e resgatar aspectos do feminino que foram esquecidos ou suprimidos.

O que é o mito de Inana?

Inana é uma deusa do amor, fertilidade e poder. No mito, ela decide descer ao mundo inferior (um lugar sombrio e perigoso) para visitar sua irmã Ereshkigal, a rainha desse mundo. Durante a jornada, Inana passa por várias provações: ela é despojada de suas roupas e joias, é julgada e acaba morrendo. No entanto, com a ajuda de outros deuses, ela é ressuscitada e retorna ao mundo superior, mas com uma condição: alguém deve tomar seu lugar no mundo inferior. Inana escolhe seu consorte (cônjuge), Dumuzi, para ocupar esse lugar, após ver este apossado de seu trono sem se compadecer por seu sofrimento.

O que isso significa?

O mito de Inana simboliza a jornada de autoconhecimento e transformação. A descida ao mundo inferior representa a necessidade de enfrentar nossos medos, traumas e aspectos reprimidos de nós mesmos. Para nós mulheres, isso pode significar reconectar-se com o feminino que foi suprimido pela sociedade patriarcal, que valoriza mais o masculino.

O feminino reprimido

Em muitas culturas, o feminino foi associado a características como sensibilidade, intuição e emoção, que foram desvalorizadas em favor de traços mais “masculinos”, como racionalidade e força. Isso fez com que muitas mulheres se sentissem desconectadas de sua verdadeira natureza. Segundo Kehl (2008), essa desvalorização do feminino não é algo novo — ela existe desde os tempos antigos, como na Grécia e Roma, onde as mulheres eram vistas como seres de “segunda categoria” ou até mesmo inferiores aos homens. Essa visão distorcida fez com que muitas mulheres internalizassem essa desvalorização, afetando sua autoimagem e autoestima.

O mito de Inana mostra que é possível resgatar essa conexão, mas isso exige coragem para enfrentar as próprias sombras e medos, que muitas vezes estão projetadas no masculino externo (pai ou parceiro, por exemplo).

A sociedade patriarcal e o papel da mulher

A autora do artigo, Adriane Viola Bacarin, explica que, em uma sociedade patriarcal, as mulheres muitas vezes são ensinadas a se adaptar aos padrões masculinos, negando seus próprios instintos e desejos. Isso pode levar a uma sensação de vazio ou desconexão consigo mesma. O mito de Inana serve como um modelo para as mulheres que desejam se libertar dessas expectativas e encontrar sua própria voz.

Perera (1985) também destaca que muitas mulheres acabam se identificando com ideais culturais distorcidos, como a ideia de que precisam se sacrificar ou negar suas próprias necessidades para serem reconhecidas ou amadas. Isso pode levar a relacionamentos desequilibrados, onde a mulher se anula para evitar conflitos. No entanto, essa força reprimida não desaparece — ela continua agindo no inconsciente e, em algum momento, exige ser trazida à tona. O mito de Inana nos lembra que é preciso enfrentar essas questões para desenvolver uma integridade individual e viver de forma mais autêntica.

O retorno de Inana e a transformação

Quando Inana retorna do mundo inferior, ela não é mais a mesma. Ela passou por uma transformação profunda e agora carrega consigo a sabedoria adquirida nessa jornada. Isso simboliza a importância de enfrentar nossos próprios “mundos inferiores” — nossos medos, traumas e aspectos reprimidos — para nos tornarmos mais completas e integradas.

Conclusão

O mito de Inana é uma metáfora poderosa para a jornada de autoconhecimento e empoderamento feminino. Ele nos lembra que, para nos tornarmos inteiros, precisamos enfrentar nossas sombras e resgatar aspectos de nós mesmos que foram reprimidos. Para as mulheres, isso significa reconectar-se com o feminino e encontrar um equilíbrio entre os aspectos “superiores” e “inferiores” de sua natureza.

Gabriela Gomes do Nascimento

Psicóloga junguiana – CRP 06/165019

Referência:

BACARIN, Adriane Viola. O retorno de Inana: a mulher em busca do feminino reprimido. Travessias, Cascavel, v. 13, n. 2, p. 46-58, maio/ago. 2019. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/travessias/article/view/22898#:~:text=Resumo,consci%C3%AAncia%20para%20o%20n%C3%ADvel%20inconsciente . Acesso em: 19.03.25

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