Falar sobre gerações é falar sobre herança. Herança genética, cultural, patrimonial e, principalmente, psíquica. Quantas vezes não nos deparamos com traumas, padrões de comportamento, escolhas amorosas e relações entre pais e filhos que se repetem geração após geração, criando uma cadeia aparentemente sem fim?
Quando uma pessoa da família decide romper esse ciclo, muitas vezes é taxada como a “ovelha negra”. No entanto, é justamente essa ovelha negra que, ao se dispor a curar-se de padrões reproduzidos inconscientemente, abre caminho para novas formas de se relacionar e agir. Essa mudança impede que velhos hábitos continuem sendo passados adiante, interrompendo ciclos que podem ser prejudiciais.
O primeiro passo para romper esses padrões é o autoconhecimento. Entender de onde vêm esses comportamentos e como eles se manifestam em nossa vida é fundamental. E uma das ferramentas mais poderosas para isso é a psicoterapia. Através dela, podemos identificar e ressignificar traumas, criando uma nova narrativa para nossa história.
A Bagagem Ancestral: O Peso e a Sabedoria dos Nossos Antepassados
Quando falamos de ancestralidade, não nos referimos apenas a pais, avós ou bisavós, mas a todas as gerações que vieram antes de nós e contribuíram para a construção da humanidade. Nós não nascemos como folhas em branco; carregamos uma carga ancestral que nos direciona e nos auxilia em diversas jornadas ao longo da vida.
Olhar para esse universo passado pode nos ajudar a compreender simbolismos profundos sobre nós mesmos. Na psicoterapia, quando ampliamos nossa perspectiva para questões ancestrais e comuns a toda a humanidade, ganhamos um novo olhar sobre como vivenciamos e interpretamos situações, sonhos e pensamentos. Essa reflexão nos permite reconhecer padrões que vão além da nossa experiência individual, conectando-nos a uma história maior
A Dificuldade de nos Colocarmos em Primeiro Lugar
Completando essa reflexão sobre ancestralidade, trago um trecho de uma oração indígena do século VII que retrata conflitos ainda presentes no século XXI: a dificuldade de nos colocarmos em primeiro plano, de nos respeitarmos e nos aprovarmos.
“Eu entendo a mim mesmo, porque só eu vivi e experimentei minha história; porque me conheço, sei quem sou, o que eu sinto, o que eu faço e por que faço. Me respeito e me aprovo.” (Trecho retirado de uma oração indigena do México no século VII)
Essa oração nos remete a questões profundas sobre os papéis que desempenhamos e que, muitas vezes, não são verdadeiramente nossos. Refletir sobre nós mesmos é também refletir sobre as relações que estabelecemos e como elas se formaram. Para nos conhecermos, precisamos entender nossa história: como aprendemos a nos relacionar, a conviver e como nossos valores e princípios foram consolidados.
Vivenciar a afirmação presente na oração é algo valioso, mas desafiador. Já era difícil no século VII, e continua sendo hoje. A psicoterapia nos ajuda a ter um panorama mais amplo da nossa vida, permitindo que olhemos para dentro e para fora simultaneamente. É a partir desse movimento que conseguimos iniciar a mudança.
Conclusão: A Jornada do Autoconhecimento e da Cura
Rompendo ciclos, reconhecendo nossa bagagem ancestral e refletindo sobre os papéis que desempenhamos, podemos iniciar um processo profundo de autoconhecimento e cura. A psicoterapia é uma ferramenta essencial nessa jornada, pois nos ajuda a entender de onde viemos, quem somos e para onde queremos ir.
Cada passo que damos em direção à cura da nossa criança interior e ao resgate da nossa história ancestral é um passo em direção a uma vida mais autêntica e plena. Que possamos, juntos, romper ciclos e construir um futuro mais leve e consciente para as próximas gerações.
Gabriela Gomes do Nascimento
Psicóloga junguiana – CRP 06/165019